MEDICINA DO VIAJANTE

O turismo é uma das indústrias que mais crescem no mundo todo. Na década de 90, nos 49 países mais pobres, o turismo aumentou seis vezes mais do que na Europa e, nos próximos anos, estima-se que o turismo internacional aumentará em todas as regiões do mundo. Em 2004, mais de 700 milhões de viajantes atravessaram fronteiras. Nos primeiros oito meses de 2008, houve um crescimento médio de viagens internacionais de 3,7% na comparação com o mesmo período em 2007. Estima-se que em 2020 haverá cerca de 1,5 bilhão de viajantes internacionais. Nos estados Unidos, o número de pessoas que saem do país passou de menos de 52 milhões em 1995 para 63,5 milhões em 2005, um acréscimo de mais de 1 mi-lhão/ano.

A cada ano, cerca de um bilhão de passageiros utiliza o transporte aéreo. Por volta de 20 a 70% desses viajantes relatam algum problema de saúde associado à viagem. Pouco mais de 1% chega a necessitar de hospitalização. Embora as doenças infecciosas e parasitárias respondam por apenas 1% dos óbitos em viajantes, elas contribuem para maior morbidade, podendo também desencadear epidemias em poucas, se não houver vigilância eficiente.

Estima-se que para cada cem mil pessoas que viajam a países em desenvolvimento durante um mês:
- 50.000 terão algum problema de saúde;
- 8.000 terão que consultar um médico;
- 5.000 necessitarão de repouso na cama;
- 1.100 estarão incapacitados para o trabalho;
- 300 precisarão de atendimento hospitalar;
- 50 terão que ser removidos de seu destino de viagem;
- 1 irá a óbito por doença adquirida durante a viagem.

Com o objetivo de diminuir o risco de propagação de doenças, foi aprovado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), em 2005, o Regulamento Sanitário Internacional (RSI). O documento estabelece normas e procedimentos a serem adotados por todos os países, com vistas à detecção oportuna e resposta às emergências em saúde pú-blica de importância internacional.

A medicina do viajante é uma área da medicina que agrega conhecimentos de várias especialidades médicas. Seus objetivos são: proteger a saúde das que se deslocam entre cidades ou países; prevenir a propagação de doenças infecciosas associadas aos deslocamentos populacionais e, com isso, reduzir a morbidade e mortalidade de doenças associadas a viagens.

Para determinar os riscos associados à viagem, vários fatores devem ser analisados e podem estar relacionados a características próprias do viajante ou da viagem.

Viajante:
- Idade
- Sexo
- Condições de saúde prévia e atual
- Antecedentes alérgicos
- Uso de medicação
- Gestação
- Ocupação ou profissão
- Estado vacinal
- Comportamento e estilo de vida

Viagem
- Propósito e destino geográfico
- Duração e estação do ano
- Meio de transporte
- Tipo de viagem (urbano, rural)
- Hospedagem e acesso aos serviços básicos de higiene, água potável e infraestrutura sanitária
- Manipulação adequada de alimentos

Os fatores de risco mais reconhecidos para a aquisição de doenças são: viagens de mochila e aventura, visita a zonas rurais e fora das rotas turísticas habituais, viagem com duração superior a quatro semanas, coincidência com época de chuvas, viagem de longa duração, como expatriados e colaboradores.

São atribuições da medicina do viajante:
1. Orientar sobre a prevenção de doenças infecciosas: vacinação, medicações preventivas, cuidados com a ingestão de água e alimentos, proteção contra as picadas de insetos e outros animais perigosos.
2. Orientar sobre a prevenção de problemas decorrentes da programação do viajante, como trombose venosa profunda (TVP) devido a longas viagens de avião, mergulho em profundidade, altitudes elevadas, calor ou frio severos, efeitos da mudança de fuso horário (jet leg), entre outros.
3. Orientar quanto ao risco de acidentes e exposição a violência (assalto, situações de conflitos, guerra, terrorismo, etc.).
4. Informar e orientar acerca dos surtos de doenças e da situação epidemiológica do local de destino.
5. Orientar o viajante portador de doença crônica ou em situação especial como hipertensão, cardiopatias, imunodeficiência, diabetes, transplante, neoplasia, gravidez, idade (idosos e crianças pequenas) etc.
6. Revisar e atender as intercorrências relacionadas com a via-gem, após o retorno do viajante.
7. Preencher formulários médicos exigidos em diversos países por universidades, imigração ou empresas.

A consulta deve ser realizada de quatro a oito semanas antes da viagem para que haja tempo de serem tomadas todas as medidas necessárias. No entanto, mesmo que seja um dia antes da viagem, a pessoa também pode se beneficiar da consulta, pois várias orientações ainda podem ser feitas neste momento. O atendimento consiste em:

1. Estabelecer o perfil de risco do viajante, com base em informações como idade, sexo, estado de saúde, doenças prévias, comportamento provável, atividades que irá desempenhar, entre outras.
2. Estabelecer o programa de vacinação: atualizar o calendário vacinal básico e determinar outras vacinas necessárias ou recomendadas, com base no itinerário da viagem e situação epidemiológica atualizada dos locais por onde o viajante passará.
3. Orientar a preparação de um kit de primeiros socorros com medicamentos e equipamento de proteção geral e específico.
4. Avaliar a indicação de quimioprofilaxia contra malária.
5. Orientar sobre a prevenção e atuação nos casos de acidentes, afogamentos, traumatismos, assaltos, queimadura solar, etc.
6. Orientar quanto às precauções a serem tomadas contra as do-enças mais prevalentes no local de destino, principalmente no que diz respeito aos cuidados com água, alimentos e picadas de insetos.
7. Orientar sobre as funções da Embaixada e do Consulado, fornecer a localização dos mesmos.
8. Avaliar a condição de saúde do viajante em seu retorno, com o objetivo de diagnosticar e indicar tratamento de doenças que podem estar relacionadas com a viagem e que se manifestaram apenas nessa ocasião.

Alguns sites fornecem informações sobre vacinas exigidas em alguns destinos e outros a respeito da situação epidemiológica de cada região (presença de surtos):

www.anvisa.gov.br/paf/viajantes/index.htm
www.saude.gov.br/svs
www.cdc.gov/travel
www.who.int/ith



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